A Mara... um dia escrevi uma carta para a Mara... foi a primeira carta que escrevi a alguém... alguém que não o Pai Natal e essas coisas... eu gostava da Mara... a Mara gostava de mim... engraçado como tudo o que fazia era tão contraditório... engraçado como certos traços já lá andavam... engraçado como eu brincava com tudo, como se tudo fosse desculpável... como se a Mara tinha que achar graça a tudo... não bastava achar-me graça tão só e somente... A Mara não era só Mara, era Mara com nome de família a seguir... eu frequentava-lhe a casa... o irmão adorava-me... e no entanto o tanto que eu a puxava para mim o dobro eu a fazia duvidar e me detestar... lembro-me que ela compunha o meu nome quando entrava na brincadeira... uma vez escrevi-lhe uma carta... lembro-me que levava uma música... engraçado... lembro-me de ela me emprestar as cassetes vhs do pai das finais europeias do Benfica de 88 e 90... engraçado como o gostar de alguém não basta... a carta era merecedora de uma resposta... e tive-a... engraçado como um sim ou um não têm inúmeras interpretações... inúmeras ilações a tirar e caminhos a seguir... a vida seguiu mais uns momentos... momentos intensos, por tudo e por nada tão concentrados e dispersos, tão voláteis e tão reais... e eis que eu já não era nada... nem jogador da bola, nem estudante, nem rapaz da má vida... era um ser prestes a ser... aniversário da Mara... tão longe estava... chovia que se fartava... e eis o dilema, ir com ela e com os seus amigos da universidade do bem, dos nomes com nome e com nomes no fim, dos carros e dos paizinhos... ela sorriu-me e pediu-me, mas porque iria eu?? atrás do quê?? para enganar quem??? lembro-me em certa altura muito antes, ela ter dito que nunca teria confiança em mim... ela nunca teria confiança em mim... sim... e nesse dia de chuva com o carro da minha mãe a trabalhar a 3 cilindros, fui ter com o pessoal... o mesmo pessoal que ontem teve comigo no Jamor... dos nomes simples, das alcunhas, dos diminutivos próprios... e nessa noite com o pessoal a história recomeçou... a minha... a Mara seguiu a dela... mais tarde encontrei-a numa noite de Verão... foi simpática, pareceu-me genuíno o interesse em saber de mim, ali em trinta segundos... "era uma colega da escola"... "era um colega da escola"... eu gostava dela e ela gostava de mim... e um dia escrevi-lhe uma carta e mandei-lhe uma música...