"mais fino que o papel de seda..."
há muitos anos atrás um grande amigo, família até, de decadas, daqueles que eu também passo imenso sem dar notícias, e eles já sabem o que a casa gasta, para o bem e para o mal...esse amigo no meio de uma conversa qualquer disse-me "tu és mais fino que o papel de seda..." nunca tinha ouvido tal expressão... percebi de imediato o porquê e em que contexto ele disse-me aquilo... percebi o quanto faca de dois gumes aquela expressão continha na sua essência, e se ele me o disse no sentido irmão, da irmandade que somos, companheirismo e fatalidade de tal eu como ele sermos assim como somos, percebi que para além do elogio que ele julgava ter feito, eu captei todo o reverso da medalha de eu para a vida ser "mais fino que o papel de seda..."
ora aí está uma expressão que nunca mais ouvi na vida... julgo... talvez tenha a dito uma ou outra vez entre dentes ou só cá na minha mente, acerca de mim e das minhas coisas e formas... " mais fino que o papel de seda..."
nunca mais ouvi... será que é uma expressão conhecida??... nunca mais a ouvi...
há dias... numa das típicas arrancadas ou saídas da minha filha, a minha mãe sai-se com "esta miúda é mais fina que o papel de seda..." passado mais de dez anos volto pela apenas a segunda vez na vida a ouvir a tal expressão raríssima, e que me ficou gravada na memória e cravada na pele, na genuínidade e franqueza e clareza de toda a névoa que ela contém... a minha mãe... sobre a minha filha... a minha mãe... sobre a minha filha...
não sei o que sinta sobre... se por um lado qualquer pai quer que um filho tenha algo de si... por outro lado assusta-me a complexidade das formas a que o sangue e a alma e a pele e a essência e a mente e a vida "formam" e "são"...
existem coisas tão inexplicáveis... que nem vendo, nem sentindo, nem querendo, nem nada... só sendo...