Tempo de viver...
esta aparente forma tranquila e calma de encarar as coisas não nasceu comigo... aliás, nem existe... quem me conhece sabe que eu vou tentando, mas só tento... mas que outra forma teria eu de encarar a vida senão esta?? o fingir não perceber, o condescender, o tolerar, o virar as costas e aguardar... o saborear a tempo e dentro do tempo e ficar... o perseguir as coisas mais simples em vez dos jogos e das batotas e dos azares... foram anos demais a chapar de frente contra as contrariedades, as vontades imediatas, os riscos e os vícios das almas, o tempo que nunca jogava a meu favor... os amores que orgulhosamente combatia... o aqui e agora ou o nunca... e lembro-me dos erros... e de pessoas do iníco da minha jornada... do tempo em que eu tentava viver... tentava ser... sem deixar espaço a que o próprio tempo ditasse o que viver e o que ser... já está tão longínquo... já nem sequer quase que faz parte do início da caminhada... alturas em que sofria mesmo, e vivia mesmo, porque não sabia outras formas... só as que via nos filmes e queria para mim... um dia estava com os meus pais e irmã a jantar, e na mesa ao lado estava um casal... e eu quis tanto aquela vida para mim... estar assim na cumplicidade... ser eu e partilhá-lo com o meu amor... era tão ingénuo... estava tão no início, que nem sei como me fui agora me lembrar... restaurante girassol talvez... em Sarilhos, algures entre Lisboa e Montijo nos tempos da nacional... as velhas rotinas... o sair do campo quase profundo e dar de caras com a cidade... e logo ali a ter de saber ser agricultor agora e doutor logo a seguir... a tratar os velhotes todos por tios e tias e logo a seguir por senhor e senhora... passar o verão de cuecas e andar sempre a banhos, fazia-se tudo ao mesmo tempo eramos senhores dos nossos mundos... e logo a seguir piscinas da Av. de Roma, todo atrapalhado... usar fato de banho e toca e chinelos, e entrar por aqui e molhar primeiro e ir por além e não saber o que fazer, e parecia que todos olhavam para mim... ser criança... eu sei que todos deixamos um dia de o ser... eu sei que é hora dos mais novos... viverem... mas de lá para cá existe um tanto, um tempo, que já não volta... quando todos os dias tentávamos viver sem saber como...
http://www.youtube.com/watch?v=dbckIuT_YDc